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Ensino híbrido pode oferecer mais autonomia aos alunos no pós-pandemia
12/07/2021

 

bernardo campolina maria eduarda
Bernardo Campolina, com os filhos Maria Eduarda e Patrick: "vai mudar radicalmente a forma do ensino"
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Foto: Fred Magno

No momento em que os estudantes aos poucos vão voltando ao regime presencial nas escolas públicas e privadas do país, a discussão sobre o uso de tecnologias no universo educacional ganha forças. As escolas estão preparadas para usar os recursos digitais, mesmo em um contexto pós-pandêmico, quando todos os alunos puderem voltar regularmente à sala de aula?

Por enquanto, a tecnologia tem sido uma aliada para que alunos, especialmente da rede privada, possam manter os estudos de forma remota. Mas, na prática, pouco da metodologia pedagógica foi alterado. De maneira geral, os professores continuam na posição central da aula, transmitindo conteúdo, enquanto os estudantes mantiveram postura passiva.

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As tecnologias podem oferecer muito mais. Especialista em ensino híbrido, a educadora e escritora Lilian Bacich explica que é possível integrar os recursos digitais com a prática docente em sala de aula, colocando o professor como provocador e mediador.

“Com a tecnologia integrada o professor pode ter informações sobre o nível de profundidade e aquisição de conhecimento dos alunos e, por meio disso, planejar sua intervenção pedagógica. Ensino híbrido é a abordagem da integração do digital com a relação humana”, afirma a educadora, acrescentando que algumas escolas públicas e privadas já vem usando a metodologia há pelo menos seis anos no Brasil.

Lilian Bacich explica que algumas instituições erram em usar o termo ensino híbrido para nomear a volta gradual às escolas e o revezamento  entre aulas on-line e presenciais. O termo, na verdade, se refere à utilização de recursos digitais em um contexto educacional que coloca o estudante como protagonista, possibilitando a ele um melhor controle de ritmo, tempo e espaço de aprendizagem.

Além do uso da tecnologia em sala de aula, abre-se ainda a possibilidade de estudantes da educação básica cumprirem parte da carga horária em casa, por meio de ferramentas digitais. Essa já deve ser uma realidade para o ensino médio, que passa por uma readequação conceitual. A carga horária foi ampliada e 20% poderá ser cumprida à distância.

Presencial é necessário

Coordenadora do Colégio Nossa Senhora das Dores, Regianne Ziviani pôde acompanhar o ensino remoto como profissional e mãe. Ela conta que os dois filhos, de 8 e 16 anos, se adaptaram muito bem às aulas on-line, mas não deixaram de morrer de saudades da sala de aula.

“Eles ganharam muita autonomia, mas sentem falta da socialização. Um dia antes de voltar ao presencial, meu filho nem dormiu direito de tanta ansiedade. Somos capazes de fazer tudo sozinhos, mas precisamos entender que ninguém vive sozinho. Dentro de casa existem as regras da casa, mas os alunos precisam conhecer as regras da sociedade”, afirma Regianne.

A coordenadora lembra ainda que o presencial também é fundamental para os professores. "Dizemos que é importante o olho no olho. Nós percebemos pelo movimento corporal do aluno que ele não está entendendo aquela matéria". 

Professor da UFMG, Bernardo Campolina acredita que sua filha Maria Eduarda, de 12 anos, acabou ganhando bastante autonomia e aprendeu a gerenciar a rotina de estudos durante o ensino remoto. Observando a experiência como pai e docente, ele acredita que a sala de aula tende a ficar diferente quando a pandemia terminar.

“Acho que vai mudar radicalmente a forma com que ensino era ministrado ate hoje. O aluno tende a ter papel mais ativo no processo e o docente tem que rever forma de transmitir o conteúdo. Já havia esse movimento e a pandemia só acelerou o processo. O problema é que nem todas as famílias estão preparadas para isso”, opina Campolina.

Professores precisam estar preparados

José Armando Valente, pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Unicamp, acredita que é preciso investir na formação dos professores para uma educação integrada em sala de aula, pois as aulas não serão como antes da pandemia. “É preciso uma mudança na forma de enxergar o ensino presencial. Vai ser preciso estimular o aluno a buscar no online materiais relacionados à aula. Os alunos podem assistir a filmes, realizar atividades, resolver problemas anteriormente e a aula presencial não seria mais uma passagem de informação, mas algo que discute a problemática de maneira mais reflexiva”.

Cléa Prado, diretora do Colégio Arnaldo Anchieta, acredita que os professores estão sendo bem-sucedidos no desafio de incorporar as ferramentas tecnológicas à pedagogia. “Não é fácil, porém professores são profissionais e gestores do conhecimento. Como tal superam desafios com sabedoria, aprendizagem e desenvolvimento pessoal e profissional. Estão mostrando mais uma vez que se apropriar, aprender e utilizar ferramentas de aprendizagem são essenciais”.

A educadora explica que o ensino híbrido era uma realidade antes da pandemia, porém pouco falado ou referido. Após a pandemia, a tendência é que essa forma de ensino seja ampliada nas escolas. “A diferença é que o ensino híbrido era restrito a duas ou mais metodologias de aprendizagem e agora é relacionado a metodologias,  ensino presencial e remoto e mediação de ferramentas tecnológicas”, explica.

Práticas remotas podem ser mantidas

Embora o retorno às aulas presenciais seja desejado por todas instituições de ensino, muitas acreditam que algumas práticas poderão ser mantidas de maneira remota, mesmo em um contexto pós-pandêmico.

Segundo Fernando Almeida de Melo, gestor pedagógico do Colégio Loyola, a pandemia mostrou quanto a interação presencial é fundamental para o desenvolvimento de habilidades dos alunos, mas também revelou que algumas das atividades podem tranquilamente migrar para o ambiente remoto.

“Essa reflexão deve ser feita considerando-se diferentes dimensões do processo educativo e as diferentes faixas etárias dos estudantes. Com a experiência que estamos vivenciando desde o início da pandemia e com a efetivação da reforma do ensino médio, é possível que as melhores práticas do contexto remoto sejam mantidas e aprimoradas”, afirma.

Poder público precisa investir em tecnologia e internet

As instituições privadas de grande porte tendem a utilizar cada vez mais as ferramentas tecnológicas em sala de aula, mas essa realidade tende a estar distante em escolas públicas ou particulares com menos estrutura. Essa é a previsão do professor da Faculdade de Educação da UFMG e pesquisador sobre o uso de tecnologia em ambiente educacional, Eucídio Pimenta Arruda. Dessa forma, o abismo tende a ficar ainda maior entre os estudantes mais ricos e os mais pobres.

“A pandemia nos mostrou que somos muito frágeis em oferecer direitos básicos aos estudantes, inclusive em relação à tecnologia. Pode parecer pouco pagar R$ 30 por um pacote de dados, mas para muitas famílias esse é o dinheiro para comprar a comida da semana. Além disso, um pacote pequeno não dá para mais do que dois dias de aulas on-line”, diz o professor.

Para ele, é fundamental que o poder público compreenda o acesso à internet e à tecnologia como garantia de cidadania. Uma questão que não se encerra com o retorno das aulas presenciais, já que o ensino híbrido tende a ser uma forte demanda nas escolas, especialmente nas turmas do ensino médio.

E quando as tecnologias puderem ser usadas em sala de aula, a integração social continuará sendo prioridade. “O professor deve trazer softwares que levam à interação social com outras pessoas e não uma interação com a máquina, que tende a criar ambientes solitários. O processo de gameficação para jovens e adultos tendem a estimular o aprendizado e a competição entre os colegas”, explica Pimenta.

 


 

 

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