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Nada mudou, mas tudo mudou
Famílias de mortos em protestos vivem com a sensação de que foi tudo em vão 12/07/2018

 

 

Nos últimos cinco anos, as passagens de ônibus continuaram aumentando, e os índices de popularidade dos governantes continuaram caindo. Enquanto no Brasil a sensação é de que pouca coisa mudou desde as manifestações de 2013, para as famílias das pessoas que morreram em movimentos por um país melhor, a vida nunca mais foi a mesma. Pelo menos dez mortes foram registradas em episódios relacionados aos protestos. Cinco anos depois, restam a dor pelas perdas e a sensação de que foram em vão. Entre as vítimas estão Douglas Henrique de Oliveira, que caiu de um viaduto durante um ato em Belo Horizonte, e o caminhoneiro Renato Kranlow, atingido por uma pedra ao passar por um bloqueio de trabalhadores no Rio Grande do Sul. Em 2018 a história se repetiu, e o caminhoneiro José Batistela foi morto em Rondônia durante a greve da categoria.

 

Em casa, a diarista Neide Maria Caetano de Oliveira, 48, guarda a foto de Douglas e o tênis vermelho usado só uma vez, no dia do protesto em que ele perdeu a vida. Ela lembra como se fosse ontem que tentou convencer o filho a não ir. “Ele estava de folga no trabalho porque era ponto facultativo, e os colegas ligaram chamando para ir à manifestação. Eu falei ‘Meu filho, não vai, nada vai mudar’. Mas ele dizia ‘Mãe, a gente tem que tentar um Brasil melhor’. Ele acreditava mesmo na mudança”, conta. “Mas não mudou nada. O preço das passagens aumentou não foi uma nem duas vezes, a corrupção continua, a Copa aconteceu. A única coisa que mudou foi a minha vida e a das outras pessoas que perderam os entes queridos”, diz.

 

Douglas morreu aos 21 anos, depois de cair do viaduto José Alencar, na região da Pampulha, na capital mineira, durante uma manifestação no dia 26 de junho. O acidente ocorreu próximo ao Mineirão, onde, naquele dia, a seleção brasileira venceu o Uruguai por 2 a 1 na Copa das Confederações, enquanto, do lado de fora, os gritos eram de “Não vai ter Copa”. Em uma de suas últimas publicações no Facebook, no dia 19, ele cumprimentou quem “estava lutando por um Brasil melhor”: “A hora é essa”.

 

Na família de Neide, existem “o antes e o depois de Douglas”. “Não tenho mais meu filho comigo falando que me ama, aquele abraço que ele me dava toda vez antes de sair de casa, o cheiro dele em mim. Nossos Natais não são mais os mesmos, as reuniões de família não são mais as mesmas. O Douglas tinha 21 anos, era cheio de vida, muito carinhoso com todo mundo. Ficou um vazio muito grande”, lamenta Neide. Ela conta que, no dia em que morreu, o filho havia comentado sobre o desejo de voltar a estudar para conseguir um serviço melhor – ele trabalhava em uma empresa de logística.

 

O inquérito sobre a morte de Douglas foi concluído pela Polícia Civil em dezembro de 2014 e não apontou culpados. “Eu não culpo ninguém, acho que o meu filho estava no lugar errado na hora errada”, afirma Neide.

 

Ainda assim, ela mantém a esperança de um país melhor. “Tem que continuar lutando, porque, se afrouxar, fica pior. Mas, infelizmente, não estou vendo muito resultado”, diz. “Eu vou vivendo um dia de cada vez. Minha fé em Deus e em Nossa Senhora é muito grande, e me agarro a ela. Tenho minha neta e minhas filhas, que são boas comigo como ele era, mas eu nunca mais fui uma pessoa feliz”, ressalta.

 


 

 

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