Cores explosivas dos anos 80 – década que não para de exibir seu legado em recentes coleções – são, definitivamente, o que precisávamos para encarar o próximo verão com mais disposição. Tudo bem que tons de néon já estão mais do que exaustivos, a julgar pelas vitrines e pelas araras das lojas fast-fashions, mas Bobstore, Fabiana Milazzo e Modem, marcas que desfilaram na 47ª edição do São Paulo Fashion Week (SPFW), repetiram a dose em suas apresentações, antecipando o que será novo no próximo verão.

Aliás, “novo” não é necessariamente uma palavra explorada com grandes ambições na moda. Há algumas temporadas, estilistas vêm revisitando as mesmas tendências sem grandes emoções, o que contradiz um pouco o tema “Utopia” proposto nesta edição do SPFW, que aconteceu entre os dias 22 e 27 de abril no espaço Arca, em São Paulo. A proposta da edição foi convidar todos a participar da construção de um futuro cada vez mais criativo, colaborativo e inclusivo. O primeiro passo foi dado pelo menos no casting. O número de modelos afrodescendentes foi recorde nos desfiles, configurando essa edição do evento como a mais inclusiva da semana de moda.

Novidades. Ocupando o lugar de grandes marcas que abandonaram o evento, como a Osklen, as estreantes desta edição foram Another Place, Flavia Aranha, Haight, Neriage e Ocksa – essa última terá, em breve, a coleção desfilada disponível para a venda também em Belo Horizonte, no Grande Hotel Ronaldo Fraga, no Lourdes. Já a Cavalera voltou, após uma pausa de algumas edições, ao calendário oficial.

O meio ambiente foi uma pauta que teve destaque nos bastidores, com bons exemplos nesta temporada. Decidida a promover a sustentabilidade e a inclusão social em seu desfile, a estilista mineira Fabiana Milazzo homenageou catadores de material reciclável de um dos maiores aterros do mundo, no Rio de Janeiro. As peças foram confeccionadas reutilizando retalhos de tecidos que normalmente são descartados. “Nosso objetivo é trazer nossas clientes, amigas e colaboradoras para perto de atitudes que protejam o meio ambiente”, disse Fabiana.

A veterana Patricia Viera, dona de uma indústria de couro no Rio de Janeiro, encontrou nos tecidos de descarte uma solução. Com o material que sobra dos recortes a laser que fizeram seu nome, a estilista montou mosaicos em parceria com os artistas cariocas Nathalia Reyes e John de Souza. Na mesma pegada engajada, a marca estreante Another Place, dos pernambucanos Rafael Nascimento e Caio Fortes, investiu no streetwear, totalmente unissex, e em peças jeans em parceria com a Levi’s (com lucro destinado para a ONG Casa 1).

Talvez, mais do que as tendências em si – acompanhe algumas delas nessa página –, a moda esteja buscando, aos poucos, um novo fôlego: uma preocupação maior do que a simples venda, o imediatismo e a urgência ambiental. Vestir algo em conexão com a sustentabilidade faz o nosso armário e a consciência agradecerem.