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Após revés, petistas dizem que sigla se afastou da base popular
Nomes do partido admitem que raiz social que o fez crescer foi esquecida nos últimos anos 30/10/2018

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PUBLICADO EM 30/10/18 - 03h00

Dois dias após a derrota nas eleições presidenciais, a primeira desde 2002, petistas repercutiram o resultado das urnas no último domingo. Com a vitória de Jair Bolsonaro (PSL), integrantes do partido defendem que a sigla retome pautas históricas com bases sociais que, segundo eles, foram, de certa forma, deixadas à margem nos últimos anos.

Ex-ministro do governo Lula, Nilmário Miranda disse que o PT tornou-se “excessivamente institucionalizado” e se afastou das camadas populares. Após o revés no cenário nacional, Nilmário destacou que integrantes do partido devem refletir sobre o resultado. “O PT tem dificuldade de fazer autocrítica, mas terá que fazer”, afirmou.

Segundo ele, a sigla perdeu espaço entre as minorias, nas quais o partido, historicamente, sempre teve forte presença. Outro problema citado pelo petista é que a legenda não soube mostrar a esses grupos que o governo Bolsonaro, em sua avaliação, será prejudicial a eles.

A presidente do PT-MG, Cida de Jesus, ressaltou que, em um certo momento da história recente, o partido preocupou-se demasiadamente com a instituição, esquecendo-se do diálogo com movimentos sociais.

Sobre o papel da internet nessa eleição, Cida avalia que o PT demorou a perceber o protagonismo que ela exerce no processo eleitoral. “A internet e as redes sociais não são os únicos instrumentos, mas são muito fortes, e acordamos um pouco tarde para isso”, admite.

Esquerda

Segundo Nilmário Miranda, a relação do PT com os demais partidos de esquerda também deve ser revista. Ele até pondera e diz que a postura petista pode ser vista como arrogante por outras legendas do mesmo campo ideológico. “O PT não é mais o único partido (de esquerda) que se destaca. Não podemos decidir sem dialogar e quem quiser que nos acompanhe”, avaliou.

A presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann, foi procurada pela reportagem por meio de sua assessoria de imprensa, mas, até o fechamento desta edição, nenhum contato havia sido respondido.

Fator Lula

Para o jornalista e marqueteiro político Marco Iten, o principal erro da campanha petista foi não ter feito um mea-culpa sobre o envolvimento do partido em casos de corrupção e não ter reposicionado moralmente a sigla.

Além disso, a insistência do ex-presidente Lula em ser o nome para a Presidência da República, mesmo preso em Curitiba, também atentou contra as pretensões da sigla de voltar ao Palácio do Planalto.

“Ele quis ser a principal figura e prejudicou o Haddad. A legislação levava em consideração que, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, de forma nenhuma Lula poderia ser candidato. Também foi uma falta de mão firme e de postura do PT e de Haddad”, concluiu o especialista.

 

“Lula e o PT não pensam no Brasil”, avalia analista político

Segundo a avaliação do professor de filosofia e analista político Dênis Rosenfield, a falta de autocrítica do PT sobre o envolvimento do partido e de alguns integrantes em processos de corrupção e um projeto voltado exclusivamente para a perpetuação no poder foram dois dos principais erros cometidos pela legenda, os quais acabaram levando a sigla à primeira derrota em uma eleição presidencial desde 2002. Segundo Rosenfield, o PT deveria ter feito uma “real conversão à social-democracia”.

“Ficou um partido totalmente voltado para a preservação do poder, utilizando qualquer meio para que isso acontecesse, inclusive com práticas criminosas, como corrupção e desvios de recursos públicos”, avaliou o analista.

Para ele, o PT também subestimou o adversário Jair Bolsonaro (PSL), um erro grave em sua opinião. Ele acrescenta que o debate travado nas redes sociais foi mais bem aproveitado pelo presidente eleito: “O estilo das redes sociais é de enfrentamento, ao contrário de jornal e TV, onde você pode debater ideias. O PT não teve a clareza de entender o que isso significava, e o Bolsonaro é um craque nisso. Ele queria o PT como adversário, mas o PT achou que ganharia facilmente”, pontua.

A postura do ex-presidente Lula também é criticado por Rosenfield. De acordo com o analista, o petista levou o projeto de sua candidatura, mesmo estando preso, a um “processo extremo, ele ou nada”.

O especialista considera que a verdadeira aliança do ex-presidente deveria ter sido construída em torno de outro candidato. “Lula e o PT não pensam no Brasil. Se eles quisessem uma alternativa à esquerda, teriam apoiado o Ciro Gomes, mas o sabotaram a todo momento. Se o Lulativesse feito uma aliança com o Ciro, as chances seriam muito maiores”, finaliza.

 

Minientrevista

Marco Iten

Marqueteiro político e jornalista

Falou-se muito sobre o uso das redes sociais pelas duas campanhas ao longo do processo eleitoral. Nesse aspecto, também há uma falha do PT?

O PT tomou uma surra digital, não só porque as redes do Bolsonaro foram massivas e mobilizaram a sociedade a favor das propostas dele. O partido não usou sua militância, que é nacional, para uma guerra virtual, para um embate digital de melhor qualidade. Essa foi uma grande falha do partido. A campanha petista foi fraca, tão fraca que o Ciro Gomes ganhou nas redes com uma militância muito menor. O PT ainda viveu essa eleição em cima de uma comunicação que tentava se sustentar na figura do Lula, depois na do Haddad, mas sem relevância nas redes. Essa eleição provou que as redes sociais são essenciais para a construção e a manutenção da imagem e do nome de um político. 

Mesmo assim, o PT teve uma votação expressiva – cerca de 47 milhões de apoio nas urnas no segundo turno. Por que isso aconteceu?

Um pouco disso não é mérito do PT, é um pouco da postura do Bolsonaro, na construção da imagem dele como candidato. Ele levou o discurso para um extremo tão forte a ponto de muitos segmentos não aceitarem a adesão a ele. O PT, por si só, não teria essa votação sem a dose de radicalização no discurso do Bolsonaro. Ele entregou de bandeja ao adversário uma quantidade de eleitores, de nichos, que não seriam petistas, mas que foram petistas porque o discurso foi radical demais.

 


 

 

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