Amigo. Yunes deixou o cargo de assessor especial de Temer no ano passado após delação da Odebrecht
BRASÍLIA. Em uma ligação grampeada pela Polícia Federal (PF), o lobista da J&F Ricardo Saud pede a uma pessoa para tirar o nome de José Yunes, ex-assessor e amigo do presidente Michel Temer, da delação premiada que estava sendo negociada. A J&F é a controladora da JBS, uma das maiores processadoras de carnes do mundo.
O telefonema entrou no relatório da PF, que destacou em documentos as principais conversas – mais de 3.000 ligações feitas por empresários do grupo foram gravadas com autorização judicial.
José Yunes é um dos melhores amigos de Temer e foi assessor especial de seu governo até dezembro do ano passado, quando foi citado na delação do ex-executivo Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, como intermediário de um pacote com R$ 1 milhão para campanhas do PMDB.
Segundo a PF, Saud contratou uma pessoa, de nome Rodolfo, para pesquisar endereços de entregas de propina que estariam em sua delação. No diálogo, o delator diz: “Sabe o que eu estava pensando? Naquele relatório... É... Você podia fazer para mim, que eu estou indo hoje para Nova York, para levar ele. Tira aquele negócio tudo que tem do Yunes...”.
Rodolfo responde concordando com a orientação, e Ricardo Saud continua: “E põe só confirmando que nesse endereço mora... é o escritório de fulano de tal, põe tudo aquilo, amigo do cara, tal.... eu quero mostrar que você foi lá para mim e confirmar que lá era o coronel tal, tal, tal...”.
A referência feita pelo lobista diz respeito ao coronel aposentado da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, também amigo de Temer. Ele é apontado pela JBS como receptor de propina de R$ 1 milhão ao presidente. Papéis apreendidos na casa do coronel reforçam o elo entre os dois.
A “Folha de S.Paulo” ouviu pessoas da JBS que afirmaram que o nome de Yunes chegou a entrar na delação de Ricardo Saud por uma confusão de Rodolfo, e por isso saiu.
O ex-diretor da Odebrecht disse que Michel Temer pediu apoio financeiro para o partido na campanha eleitoral de 2014 e que mandou entregar no escritório de Yunes parte de uma remessa de R$ 4 milhões que ficariam sob responsabilidade de Eliseu Padilha (PMDB-RS), hoje ministro da Casa Civil.
Em fevereiro, Yunes foi à Procuradoria Geral da República (PGR) e afirmou que Padilha pediu que ele recebesse em seu escritório alguns “documentos”, que depois seriam retirados de lá por um emissário.
Ele declarou que o pacote foi levado, posteriormente, por Lúcio Funaro, apontado como operador do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). José Yunes afirmou que não sabia do conteúdo do envelope.
As cláusulas das delações firmadas entre o Ministério Público Federal (MPF) e os executivos da JBS preveem o cancelamento do acordo em caso de omissão de informações.
Em troca do relato dos crimes que cometeu e de que tinha conhecimento, Ricardo Saud recebeu imunidade e não foi denunciado pela procuradoria.