Zagueiros argentinos dispostos a tatuar no pescoço do adversário a marca da Nike, cabinho de guarda-chuva na sola das chuteiras. A cobertura formada por escudos da polícia para proteger o visitante em cobrança de escanteio. Já jogaram em campo bolo de aniversário, canastra, porta de geladeira, vara de pescar, vaso sanitário e livro de Gabriel García Márquez.
Cartéis.
Estádios com refletores vintage, iluminação de jantar à luz de velas. Campos com capinzal anexo: vacas e bezerros pastando próximo a um dos gols. Árbitro apitando sem camisa, trajando calça jeans e chinelo de dedo Havaianas. Realismo mágico. As pedras que voam no Defensores del Chaco. Vestiários recém-pintados para receber oponentes. Cortesia? Não, tática para intoxicação.
Jorge Luis Borges, Julio Cortázar, Murilo Rubião, Augusto Roa Bastos, Horacio Quiroga. Na Copa Libertadores, portões caminham, postes conversam, cavalo voa, a bola sofre, sorri e chora.
Em campo, bebê de meses, nos braços do pai goleiro, minutos antes de começar a partida: confusão de fumaça e mil demônios, papel picado, sinalizadores de navio e foguetório. Ele sorri, o povo aplaude, o fotógrafo registra, a criança tosse e treme.
O espectro na arquibancada do estádio Hernando Siles, construído sobre cemitério. Claro, era fantasma mesmo. O objeto que sobrevoou o estádio Nuevo Gasômetro, após jogo do Botafogo. Claro, era disco voador mesmo. Tudo acontece com o... San Lorenzo de Almagro.
Assombrações e ETs são bem-vindos, não o Demônio Racista de Huancayo, aquele que cuspiu cacos de vidro no brasileiro Tinga, no Peru, em jogo do Cruzeiro noticiado pelo repórter itabirano Rodrigo Franco.
A delícia de ver times de São Paulo desclassificados – idem para cariocas. Quinta gloriosa, ontem à noite os católicos da universidade abateram um urubu no Apoquindo, contíguo aos Andes.
Domingo é dia de descanso, não foi feito para trabalhar: bíblico mandamento. A certeza de que 31 dos 32 disputantes vão se estropiar. Apenas um será glorificado, mas até alcançar o céu passará por tanta provação que se perguntará: esse triunfo compensou tamanho tormento? Vitória de Pirro.
Por São Victor da Meta Intransponível, quem merece o terror de um pênalti – fatal, se convertido – aos 48 do segundo tempo? Três pênaltis perdidos por um mesmo jogador num mesmo jogo.
Loucura pouca? Em 1998, chamaram o México, país corajoso o suficiente para morar ao lado dos Estados Unidos. Por falar em Tio Sam, cogita-se convidar os times da Major League Soccer para a festa dos libertadores.
Bem-vindo à festa, Abraham Lincoln, sente-se à mesa com Simón Bolívar, Bernardo O’Higgins, Antônio de Sucre e, entre outros, os Josés Bonifácio, Artigas e de San Martin.
Barcelona, Bayern, Milan, Chelsea, Real Madrid, Juventus, condenados a jamais provarem dessa iguaria. Espelho da esculhambação que infelicita este continente; também do que dizem termos de melhor: pasión.
Quando pensa que não, loucura entre as loucuras: Clube Atlético Mineiro. Fantástico!