Defensor da saída do PSDB do governo Temer, o presidente interino do partido, senador Tasso Jereissati (CE), diz que o presidente da República precisa provar que não tem nenhum envolvimento nas denúncias que constam na delação da JBS para reconquistar autoridade. Em entrevista, o senador insiste que o PSDB deve desembarcar do governo para mudar um sistema político que considera “podre”.
Como o PSDB vai posicionar-se em relação à denúncia que deve ser oferecida contra o presidente Michel Temer?
A crise não vai aprofundar-se apenas por causa da decisão eventual da Procuradoria Geral da República. Estamos vivendo um sistema político que apodreceu e morreu. A corrupção que era de batedor de carteira virou de quadrilhas internacionais.
A Câmara dos Deputados precisaria autorizar um processo contra Temer. Qual será a posição do PSDB?
Não há decisão, mas com certeza os (nossos) deputados vão agir como juízes e votar de acordo com sua consciência, não de acordo com orientação.
Se o sistema político está podre, por que o PSDB continua num governo desse sistema?
Ninguém falou em romper com o governo Temer, em entrar na linha do PT. Estamos dentro desse sistema que apodreceu, e a saída só se dará por meio de reformas. Estar dentro do governo significaria continuarmos dentro de um sistema que temos que mudar. Não temos condições éticas e morais para tentar mudar isso estando no governo.
O senhor quer dizer que a decisão do partido (de permanecer no governo) não é adequada?
Ficar no governo em si é detalhe. O que é importante é que precisamos fazer uma autocrítica profunda, reconhecer que a população não aguenta mais o que está aqui.
O senhor continuará defendendo que o PSDB saia do governo?
Sim, mas isso não é pedir “Fora, Temer”, não é pedir o impeachment dele. Eu acho difícil que o presidente saia.
Na sua avaliação, Michel Temer tem condições éticas de continuar governando?
Não tenho condições de dizer se ele é culpado ou não, mas tenho condições de dizer que, com praticamente todo seu gabinete preso, processado ou pego em flagrante e as próprias gravações com ele, o presidente precisa muito rapidamente comprovar sua inocência para ter autoridade suficiente para levar esse momento difícil.
O presidente se recusou a responder a perguntas da Polícia Federal...
Não vou julgar cada ato do presidente. É preciso reconquistar credibilidade. Quanto mais rodeios e omissões, mais essa falta de credibilidade vai aprofundar-se.
Em que momento o PSDB vai precisar reavaliar seu apoio ao governo Temer?
A reavaliação já está sendo feita. Estamos atrasados.
O senhor diz que o PSDB não quer “Fora, Temer”, mas quer recorrer da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o livrou da cassação.
Demos início a esse processo, passamos anos no microfone dizendo que a eleição foi financiada por corrupção com dinheiro público. Então, vamos recorrer, sim.
Mas esse recurso pode ter um efeito prático, que é a cassação do presidente da República.
Se a Justiça chegar à conclusão de que houve (abuso), que se cumpra a lei.
A preocupação eleitoral influenciou a decisão do PSDB de continuar no governo e preservar uma aliança com o PMDB?
Quem tiver alguma atitude pensando na eleição de 2018... Não é um sonho, é um delírio.
Seu nome surgiu em articulações para suceder Michel Temer em caso de eleição indireta para a presidência da República. O senhor pretende candidatar-se?
Eu seria irresponsável se colocasse isso em pauta.
A delação da JBS atingiu em especial o PSDB, dado o envolvimento do senador afastado Aécio Neves. Ele deve deixar o partido?
Ele tem direito de defesa. O senador se afastou, está vivendo momentos muito difíceis, principalmente com a prisão da irmã dele (Andrea Neves), que, a meu ver, foi uma brutalidade – como eu acho que uma série de abusos também foram feitos.
Na sua opinião, a operação Lava Jato comete abusos?
A Lava Jato está fazendo um trabalho excepcional, colocando a nu toda essa podridão do sistema político. O problema é que, no meio disso, não só na Lava Jato, existem abusos.
É preciso impor limites?
Há excesso de interferência do Ministério Público e do Judiciário no Legislativo e no Executivo. Mais do que isso, essas prisões... Sou a favor da delação premiada. Sem ela, não teríamos descoberto uma porção de coisas. Mas a questão da JBS preparar delação em troca de esquecer pecados de 30 anos é um acinte.
Muitos tucanos dizem que Aécio foi vítima de uma armadilha do empresário Joesley Batista, da JBS. O senhor concorda?
Uma pegadinha, com certeza. Foi montado. Agora, isso não o inocenta totalmente, porque foi montada uma armadilha, e ele caiu. Tem que averiguar quais as razões que teve para ele cair, e é disso que ele está se defendendo.