Na visão do senhor, como secretário de Fazenda, quais são os efeitos da crise em Belo Horizonte? Como está a arrecadação na capital mineira? Quando eu assumi a pasta, eu tinha a impressão de que Belo Horizonte estava em uma situação relativamente tranquila, o que não é verdade. Nós temos dificuldades com a receita, o Brasil inteiro está enfrentando essas dificuldades, mas são diferentes. No governo federal há imposto sobre a renda, sobre a indústria. Com a crise, caem a indústria, a renda, e diminui o imposto. No Estado, você tem um imposto sobre o consumo. Se cai o consumo, cai a receita do Estado. Na prefeitura, em tese, isso não deveria acontecer, porque a prefeitura tributa o patrimônio, e o patrimônio na crise não sofre. Mas o patrimônio na crise sofre inadimplência. O primeiro impacto que nós temos nos impostos de consumo afeta a receita, mas, quando a crise começa a se dissipar, a receita volta. No município o primeiro impacto é a inadimplência, porque o valor não reduz, a inadimplência aumenta e só é revertida no último espaço. Então, a prefeitura sofre muito no início da crise e demora muito para se recuperar. Por esse motivo, o nosso orçamento tinha a previsão inicial de R$ 11,5 bilhões, e vai conseguir chegar a R$ 10 bilhões de arrecadação. As despesas, por outro lado, apesar de todo esforço, são difíceis de reduzir. O que nós temos hoje em Belo Horizonte é uma falta de recursos muito grande nas áreas de saúde, social, eventos, cultura... Nós estamos com a água na linha da boca. Se eu abaixar um pouquinho, me afogo.
Qual é a alternativa adotada pela prefeitura para conseguir se manter pelo menos até a situação econômica melhorar? Essa pergunta é extremamente importante, porque ela retrata exatamente a postura de governos. Tem governo que coloca a responsabilidade do problema nos outros e não faz uma ação para resolver. O prefeito (Alexandre) Kalil tomou a decisão de combater fortemente a sonegação e reduzir as despesas. A primeira coisa que ele fez foi exonerar os 4.000 cargos comissionados e repor só o necessário. Nós estamos fazendo um grande trabalho de renegociação de todos os contratos. Só em contratos de terceirização de mão de obra nós economizamos nessa negociação mais de R$ 100 milhões. Estamos fazendo um grande esforço para que nós possamos reduzir o custo da área meio, porque se reduz a área-meio, há recursos para aplicar na área-fim. Então, o que nós estamos fazendo é um grande trabalho, e isso é mérito do prefeito, que tem tomado uma posição muito séria em dizer assim: “Precisamos fazer, temos que reduzir, vamos negociar e começamos a fazer esse trabalho”. Por exemplo, a reforma administrativa reduziu muitos cargos, secretarias, estrutura, é assim que faz. É assim que a gente faz para enfrentar a crise. Se não tem dinheiro para pagar tudo, é preciso ver o que é mais importante, fazer e deixar o de menor importância para depois.
Um dos objetivos da reforma administrativa é fazer com que se aumente a capacidade de investimento da prefeitura. Dentro dessa perspectiva, o que se prevê para esse período até o fim do mandato do prefeito? O prefeito, em sua campanha, disse que não iria fazer obra nenhuma, que iria apenas fazer funcionar, o que está acontecendo. Mas a prefeitura tem capacidade de endividamento, tinha empréstimos já contratados que não estavam sendo aplicados, e nós definimos um plano de obras até 2020 que envolve recursos da ordem de R$ 2 bilhões. Nós estamos trabalhando no que nós chamamos de “áreas vulneráveis”, que são vilas, aglomerados, moradias populares, urbanização, diversos núcleos habitacionais. São obras de saneamento, de recuperação das galerias e de mobilidade. Quando se pergunta: qual é a grande nova obra que vai aparecer? Não, não tem uma grande obra que vai aparecer, mas tem muitas pequenas obras, cuidando principalmente da periferia, das favelas, da urbanização. Essa é a preocupação. O projeto de investimento é audacioso, e os recursos já estão garantidos.
O senhor decidiu deixar o PSDB depois de longa data. Segundo a coluna Aparte, o senhor teria deixado o partido em função de um pedido dos prefeitos Alexandre Kalil e Vittorio Medioli para entrar em um projeto eleitoral com vistas ao ano que vem. Eu gostaria de saber do senhor que projeto é esse? Nós vamos enfrentar em 2018 uma campanha nacional e estadual. É natural que um Estado como Minas Gerais se posicione politicamente em um momento desses. Minas Gerais é um Estado muito importante, apesar de estar ultimamente sendo deixado de lado. As eleições nacionais têm sido decididas em Minas, ou seja, não é possível que lideranças como a do prefeito Kalil, como a do prefeito Medioli, se omitam nesse momento, pois a sociedade mineira, a sociedade brasileira, não aceitará uma omissão de lideranças importantes. Eles estão buscando formar um grupo forte, com apoiadores importantes que possam, de alguma forma, viabilizar esse projeto de apresentar candidatos para os diversos cargos que estarão em disputa. Para isso, eles precisam de pessoas que tenham algum tipo de disposição para esse negócio e que não tenham nenhum compromisso partidário para que possa ser construída uma base partidária. Então, em momento nenhum ninguém chegou perto de mim e disse que eu teria que ir para o partido tal e ser candidato a tal, nada disso. Eles me convidaram para fazer parte desse projeto para 2018, e eu vou, porque eu confio nas duas lideranças que estão à frente do projeto. Eu acho que nós temos que aplaudir muito esse trabalho das duas lideranças.
O senhor poderia ser candidato a governador do Estado? Eu digo o seguinte: nenhum cargo desses é de sua vontade própria. Ninguém pode chegar e dizer que quer ser candidato a presidente da República, quer ser candidato a governador, ou qualquer outro cargo. Isso é um projeto de um grupo, em que se viabilizam nomes, pessoas... É um trabalho que demora, que demanda negociação, conversa. Eu me apresentei ao grupo, fui aceito no grupo, sem compromissos e sem pretensões. Agora, vamos esperar a evolução e, se isso vier a acontecer e o grupo entender que eu posso participar de alguma forma, vou para onde o grupo achar que nós devamos ir.
O senhor disse que não vai ter pretensões, mas disse que quer fazer parte de um projeto político novo, que é técnico. Se o senhor fosse chamado à responsabilidade para ser candidato a algum cargo eletivo, toparia? Eu já fiz 70 anos, deveria estar em casa com os meus netos, brincando com eles, descansando, mas eu ligo o rádio, e eu ouço as notícias, eu vejo o jornal, vejo a televisão, só vejo desmando, desleixo com as coisas públicas. Então, penso que tenho duas alternativas para isso: ou cruzo os braços e vou para casa cuidar dos netos e deixo um país pior para eles, e deixo um país em que eu não sei se meu neto conseguirá sobreviver com tanta coisa ruim, ou uso a minha experiência de 40, 50 anos de serviço público para ajudar. Esse é o dilema de um homem da minha idade. Se me chamarem para ajudar de alguma forma e eu puder melhorar o Brasil, melhorar Minas Gerais, melhorar Belo Horizonte, melhorar Contagem, melhorar Betim, eu vou.