Estamos no Brasil. Ninguém duvida e o panorama nos mostra o óbvio. Nenhum outro país compete com o nosso em riquezas.. A começar pelo clima variado, tropical, a seguir pela abundante quantidade de água doce, a parar no ouro, prata, diamante e ferro e em grandes espaços para a agricultura e finalizando em ótimas condições para o equilíbrio ambiental. Sim, este é o Brasil que todos no mundo admiram e contemplam. A voz geral garante que a natureza privilegiou o nosso país diante dos outros com generosa diferenciação.
Em compensação, o mundo todo já percebe e procura nos cognominar: “Eta, gentinha vagabunda que habita essa imensa extensão territorial!” Sim, depois dos últimos escândalos políticos que se espalharam pátria afora, a alta quilometragem de terras e águas brasileiras se tornou pequena para tanto lamaçal. Já vem de algum tempo a prática pecaminosa do crime, mas somente agora houve o estouro da boiada, estamos sendo vistos como os precursores da ladroagem escandalizada. Um político se mergulha em toda imundície difundida, mas ainda encontra forças para tentar desmentir a evidência estarrecedora: “Não sei de nada, não vi nada, estou alheio a tudo”. Com essas simples palavras, próprias de um acusado qualquer, ou de um em especial, livra-se da cadeia ou, simplesmente, de uns bons puxões de orelha.
Contudo, não escrevo hoje para propagar o que já está mais que exposto num painel visto por todo o mundo. Aqui venho requerer que seja de urgência urgentíssima a regulamentação de uma profissão difusamente aqui praticada. Já presenciei discussões sobre várias práticas de missões e tarefas. Falamos de sapateiro, ferreiro, metalúrgico, carpinteiro, lavador, lavrador, agricultor, enfermeiro, fotógrafo, jornalista, enfim, de um cem número de profissões que merecem reconhecimento profissional. Mas até hoje não se cuidou em registrar, oficializar e reconhecer a profissão mais propagada e praticada no Brasil: a de ladrão.
Roubar, arrebatar, pilhar, surrupiar, surripiar, usurpar, assaltar, furtar, arrombar é uma prática tão antiga quanto a descoberta do fogo. A bíblia se refere aos dois ladrões perdoados por Jesus Cristo na cruz. Todo santo dia a polícia prende um bando praticante dos verbos acima descritos. Agora, finalmente, tornou-se comum a empresários e políticos a prática da ladroagem. E não há um só dia nem noite que eles conseguem ser esquecidos pela imprensa. Há pouco tempo estive numa cadeia como repórter. Lá a voz geral era a seguinte: “Eu roubei, mas foi uma coisa banal; e esses nossos dirigentes que nos roubam o que adquirimos junto no nosso presente para o futuro de nossos filhos, eles nunca pagam?” Dominguinhos da Pedra, que habitou uma toca na região de Itambé e ganhou até uma escultura por sua notabilidade, me disse certa vez a seguinte frase: “Rico não rouba, somente o pobre”. Mas não tinha razão por aí o saudoso eremita com a sua lógica sem lógica.
Então, fica aí a minha urgente sugestão: regularizar o mais depressa possível a corajosa profissão de ladrão, gatuno, larápio, ratoneiro, biltre, patife, velhaco, a expressão correta de acordo com o requerente. Nas normas haveria alguma exigência que faça melhorar a vida do cidadão não-ladrão e a dos ladrões: todo aquele que for preso em flagrante, caso não seja um ladrão reconhecido, sofrerá prisão por longo tempo. Por outro lado, quem apresentar uma carteirinha assinada por um ministro qualquer ou funcionário credenciado do governo, esse estará livre como os demais que nunca apareceram nem na mídia nem em nenhuma delegacia e serão chamados de gente boa.
Em caso de aposentadoria, o desonrado cidadão, vagabundo e manjado, receberia os benefícios mensais de acordo com as suas contribuições e seria proibido de continuar exercendo a profissão devido à idade ou à conquista a que fez jus. Com carteira de bandido-ladrão, quem sabe o moço se torne menos audaz e lhe seja aberta a possibilidade de pelo menos tomar vergonha na cara.