O diretor executivo da Fundação São Francisco Xavier (FSFX), Luís Márcio Araújo Ramos, compareceu, na noite dessa segunda-feira, 9 de maio, ao plenário da Câmara de Vereadores de Itabira para dar esclarecimentos, em audiência pública, sobre o processo seletivo simplificado para a contratação de pessoal para o Hospital Municipal Carlos Chagas (HMCC). A tônica do discurso do executivo foi enfatizar que embora “a instituição privada não esteja sujeita ao modelo público de realização de concursos”, a seleção ocorreu “com transparência e igualdade de oportunidades”.
Luís Márcio veio a Itabira acompanhado de uma comitiva de profissionais de Recursos Humanos, Psicologia, Jurídico e outros gestores da FSFX, de Ipatinga, no Vale do Aço. Com início às 19h, a audiência pública transcorreu até por volta de 22h, marcada, principalmente, por questionamentos dos presentes quanto ao processo de avaliação psicológica dos candidatos. Discursos acalorados questionaram também o porquê do processo não ser destinado exclusivamente à população de Itabira, o prazo curto da seleção e apontamentos pessoais daqueles que não foram aprovados.
O requerimento para a realização da audiência foi do presidente da Comissão de Saúde do Legislativo, Geraldo Torrinha (PHS). Sentou à mesa também o vereador presidente da Comissão de Defesa do Consumidor, Palhaço Batatinha (PSDB). O Executivo municipal não enviou representantes, tampouco o Ministério Público de Minas Gerais, que foram convidados.
A FSFX assumiu integralmente o Hospital Municipal Carlos Chagas em 1º de maio último. O contrato, de dez anos, firmado entre o governo municipal e a instituição previa, inicialmente, R$ 455,5 milhões pela gestão. No entanto, em aditivo, o valor foi reduzido para R$ 347,6 milhões enquanto os atuais 57 leitos não passarem para 81 leitos. O processo seletivo teve início no dia 9 de abril, com a publicação do edital com 273 vagas no HMCC disponíveis para serem preenchidas. As inscrições ocorreram até o dia 13 de abril. Ao fim do prazo, foram contabilizadas 12.244 inscrições, de 274 cidades e 20 estados do país, informou a FSFX.
Psicotécnico
Em apresentação, Luís Márcio destacou que o modelo de seleção adotado em Itabira já é aplicado pela FSFX há pelo menos 20 anos. Ele lembrou que dos 3.894 candidatos que realizaram a prova, 633 foram convocados para a avaliação psicológica. Desses, somente 230 foram selecionados para a etapa de exames e entrega da documentação e admissão no HCC.
Quanto ao chamado psicotécnico, uma das maiores polêmicas levantadas na Câmara, o executivo pontuou que a FSFX executa o Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (SATEPSI), aprovado pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP). São testes como AC (Atenção Concentrada), Palográfico (Produtividade/Personalidade), G36 (Inteligência Geral) e TIG (Inteligência Geral).
Segundo o diretor, os testes podem prever, melhor que outros métodos, o sucesso dos candidatos no cargo. A Fundação esclareceu que muito além da competência técnica, “o equilíbrio emocional é essencial à areal hospitalar”. “E ainda assim há casos de desequilíbrio. É uma atividade desgastante. Toda grande empresa entende que essa avaliação é fundamental a uma contratação eficaz de pessoal”, disse.
A alegação não satisfez a plateia. O vereador Geraldo Torrinha disse que “testes psicotécnicos são questionáveis”. Bernardo Mucida (PSB) atacou a impossibilidade de quem foi reprovado entrar com recurso à avaliação emocional. O parlamentar Palhaço Batatinha argumentou, por sua vez, que essa etapa “deveria ser dispensável àqueles que já trabalhavam no Hospital Carlos Chagas pela antiga mantenedora”. Já no auditório, o técnico em radiologia André Lúcio citou seu bom desempenho na prova objetiva, mas ressaltou que “a avaliação psicológica não poderia ser executada como critério de desclassificação de candidatos”.
Isonomia
Vereadores e público chegaram a pedir à Fundação o cancelamento do processo seletivo, o que a nova mantenedora descartou. Palhaço Batatinha citou que a cidade tem cerca de 25 mil pessoas desempregadas. Ao ser questionado no plenário sobre a valorização exclusiva da mão de obra local, Luís Márcio citou que 85% dos 230 profissionais selecionados residem em Itabira. “Todos participaram de um processo de seleção com igualdade de oportunidades”, reforçou. O executivo frisou também que o edital, criticado como “obscuro”, foi elaborado “de forma séria” pela seção jurídica da instituição.
A Câmara também lembrou o período relâmpago de contratação de pessoal, e que o processo deveria ocorrer em um prazo de pelo menos seis meses. Luís Márcio rebateu que o tempo curto ocorreu para cumprir o cronograma da Secretaria Municipal de Saúde e não comprometer o atendimento do hospital, que passou a ser destinado de forma integral ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Nas críticas quanto ao não funcionamento do site da FSFX no período final das inscrições e consulta aos resultados, Luís Márcio expôs gráficos de acesso ao site, e informou que o número de acessos ao domínio foi 30 mil nos primeiros dias para 120 mil nas datas finais, o que sobrecarregou a página.
Nova seleção
A Fundação São Francisco Xavier irá publicar um novo edital para contratação de profissionais às vagas remanescentes do primeiro processo seletivo. O documento deve ser publicado no dia 13 de maio. Um total de 43 vagas está previsto. São cargos de técnico em enfermagem, técnico em patologia clínica, analista contábil, auxiliar de higienização, auxiliar de cozinha, coletador, enfermeiro intermediário, instrumentador cirúrgico, nutricionista, cozinheiro e copeiro.
A vereadora Marcela Silva (PR) pediu à equipe de Luís Márcio que as inscrições pudessem ser feitas presencialmente e destinadas somente aos itabiranos. Bernardo Mucida pediu destinação de vagas às pessoas com deficiência. Foi batido novamente a extinção do psicotécnico como etapa eliminatório no processo.
Em resposta, o diretor executivo da FSFX destacou “que o grande pilar da Fundação é a qualidade dos profissionais que trabalham na instituição”. “O que pudermos fazer para aprimorar e qualificar o processo, nós iremos fazer”, resumiu.
