A ex-ministra e candidata a presidente, Marina Silva (Rede), afirmou na manhã desta quarta-feira (12), em entrevista à rádio Super Notícia 91,7 FM, que o lançamento do ex-prefeito de São Paulo como candidato à Presidência da República pelo PT, Fernando Haddad, "é muito semelhante" ao que foi feito pelo partido com a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e que, na avaliação dela, acabou levando o país para a perda de conquistas sociais e econômicas.
Marina também tentou explicar a queda nas pesquisas de intenção de voto - antes colocada em segundo lugar da disputa nos cenários sem o ex-presidente Lula (PT), a ex-ministra agora foi ultrapassada por Ciro Gomes (PDT). Na avaliação de Marina, os levantamentos demonstram apenas oscilações naturais da campanha.
Confira a íntegra da entrevista:
Você oscilou pra baixo nas últimas pesquisas e perdeu espaço para Ciro. O que aconteceu com sua campanha?
Como eu digo sobre todas as pesquisas, elas são apenas o retrato do momento. Nas demais pesquisas eu vinha pontuando em segundo lugar, na ausência do presidente Lula. Evidente que agora a gente continua debatendo, não há tendência definitiva, é só uma oscilação que acontece, é natural. Vamos dialogar com a sociedade mesmo com os poucos meios que possuímos, sem recursos financeiros e sem muito tempo de televisão. É uma campanha difícil, viajamos em avião de carreira, vim da Bahia, depois vou pra São Paulo. Não temos estrutura, é uma desvantagem, mas vejo que o cidadão hoje está vendo bem quais candidatos têm compromisso em melhorar a vida das pessoas.
Nas duas últimas campanhas você bateu no discurso de que luta contra a velha política. Que elemento a mais você apresenta para esta campanha?
Vou continuar criticando a velha política, apresentado propostas. A velha política, do PT, do PSDB, do PMDB, é que levou o Brasil para o fundo do poço. A corrupção precisa ser combatida, é coisa de velha política. Imagina só, 6% do PIB vai pra corrupção. Quanto custa pra educar 50 milhões de jovens? Que estão em escolas com professores mal pagos, sem estrutura. É justamente 6%. É o nosso gasto do PIB com educação. Então eu vou continuar sim tentando quebrar a velha polarização. Essa mensagem tem que ecoar.
Na prática, o que você pode fazer de diferente para tentar frear essa tendência de queda que aparece nas últimas pesquisas?
Continuar falando a verdade e apresentando as propostas. É importante que as pessoas saibam que há propostas, e não só estratégia. Temos a proposta de ampliar o sistema de creches para que todas as mulheres com filhos consigam ter tempo também para trabalhar e estudar. A minha proposta para a saúde, o meu vice, Eduardo Jorge, é quem criou a lei dos genéricos, que diminuiu o preço dos remédios. Vamos reestruturar o SUS para que ninguém precise ficar meses na fila para uma operação. Eu sei o que é isso, boa parte da minha vida eu fui atendida como indigente. Minha primeira filha eu tive numa maternidade na condição de indigente, nós quase morremos. Vamos criar 400 regiões com uma autoridade nacional, que seja um sanitarista, para dar escala ao atendimento de saúde. Os médicos de saúde da família, os postos de saúde funcionando com remédios para pressão alta, diabetes. Para que os remédios de alto custo sejam acessiveis, a construção de casas populares, fortalecimento do turismo. É assim que tem que se ganhar campanha, com honestidade e falando a verdade. Quero ganhar ganhando, sem agredir ninguém, sem mentir sobre ninguém. Sou a única candidata que defende desde o início a operação Lava Jato. Nós vamos recuperar o plano real, vamos recuperar as políticas sociais, que caíram muito nos governos Dilma e Temer.
Sempre associam a sua imagem à fragilidade, e que isso teria reflexo em um governo seu. Como você reage a isso?
Existe uma cultura machista, patriarcal, preconceituosa contra mulheres. Ainda mais mulheres com a minha origem, negra, que vem da Amazônia, alfabetizada só aos 16 anos, fui empregada doméstica. Esse discurso me trata como frágil, fraca. Mas sou retrato das mulheres brasileiras. Não venham dizer que as mulheres são frágeis. Mais de 40% dos lares são cuidados pelas mulheres, muita gente que foi abandonada, são mulheres corajosas que trabalham e cuidam de tudo. Dizem que não somos capazes. E ao longo da minha vida eu sempre enfrentei muitos preconceitos, passei por uma frestinha, fiz o Mobral, me alfabetizei aos 16 anos, enfrentei hepatite e outras doenças, mas fui senadora, a ministra mais premiada da história do Brasil, colocar na cadeia centenas de criminosos que destruíram a floresta amazônica. Mas claro, na lógica de fazer política com mentira, com violência, essa força eu não tenho. Quero força moral, força decente, e isso graças a Deus eu tenho. Não tenho um caso de corrupção contra mim. É assim que vou dialogar com as pessoas. Nós podemos mostrar, dia 7 de outubro, que o dinheiro não é mais forte que a nossa vontade de mudança.
O PT lançou Fernando Haddad oficialmente e há a estratégia de vincula-lo a Lula. Isso seria o lançamento de uma nova Dilma?
É muito semelhante. Aliás, tem um problema, a campanha do PT resgata apenas o governo Lula que deu certo. Depois do mensalão, começou por um processo de perda de ganhos que tinham acontecido inicialmente. É como se apagassem da história o governo Dilma-Temer. Tem um período que as coisas boas começaram a ser desconstruídos e as coisas ruins ampliadas, como por exemplo a corrupção na Caixa, no Banco do Brasil, em Belo Monte, o que levou ao ápice na Petrobras, que a Lava Jato tem desvendado. A população não pode deixar de pedir uma prestação de contas sobre uma eleição que levou o Brasil ao fundo do poço. Se continuar fazendo um voto em cima apenas de quem é indicado, nós vamos para um poço sem fundo.