A menos de sete quilômetros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) está o aglomerado Sumaré, na região Noroeste de Belo Horizonte, um dos principais da capital. E é nele, segundo a Polícia Civil, que estão os traficantes que comandam venda de drogas na instituição de ensino, conforme informou o delegado Rodolpho Tadeu Machado, na tarde desta segunda-feira (3). A fragilidade no controle de acesso à universidade fez com que os bandidos tivessem "passe livre" no local.
"A investigação teve início com o Philipe, vulgo Logaritimo. Antes de ser cumprido o mandado de busca na UFMG, o Philipe foi preso pela Polícia Militar. E a Polícia Militar já tinha indícios que ele estava indo à Sumaré buscar entorpecentes para vender na UFMG, o que confirmou com as investigações nossas que estavam em andamento. Nós descobrimos também que ele tinha contato com traficantes da Sumaré", explicou o delegado do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
Segundo a polícia, Philipe Augusto da Silva teria a função de gerenciar o ponto de vendas dentro da federal para os criminosos. Os bandidos do aglomerado estariam agindo como se tivessem uma "empresa".
"O exercício do tráfico é dividido em fases. Então você tem a produção, preparação para a vendas, transporte - como se fosse um produto lícito. Todos os telefones dos alvos apreendidos têm autorização para a quebra de dados. E nessa quebra de dados tivemos informações contundentes de alunos comprando drogas nas mãos dos investigados. Também conseguimos trocas de informações entre traficantes a respeito de quantidade, se teve muita saída de entorpecente no dia ou não, preparação do produto e venda, como se fosse uma empresa comum", afirmou.
Drogas sintéticas
Ainda de acordo com a Polícia Civil, há indícios que laboratórios da UFMG seriam usados para a preparação de drogas sintéticas. No ano passado, ainda conforme a corporação, o Denarc prendeu um químico que usava os laboratórios. "Nas investigações agora de março, chegamos ao investigado Matheus Lopes Ângelo, o "Matchola".
"Todos os elementos apontam que o Matheus usava o laboratório de lá. A gente tem um traficante associado a ele que durante a entrevista confirmou isso para a gente. Diretamente, o Matheus não teria envolvimento com o pessoal da Sumaré. Digamos que ele seria o traficante de 'outro patamar'. Ele tem o conhecimento técnico para produzir drogas sintéticos. Inicialmente, ele trabalhava sozinho e fornecia para esses traficantes que realizavam a venda. Seriam vendas bem específica, sob demandas", afirmou o policial.
O que diz a UFMG
Por meio de nota, a UFMG afirmou que está em contato com as autoridades policiais para apoiar o processo de apuração dos fatos e que “a Administração Central dará o apoio necessário para a implementação das medidas aprovadas pela Congregação da Fafich".
A universidade afirma que não pactua com práticas ilegais e que ferem a dignidade humana” e “expressa ainda o compromisso institucional da Universidade pública com o reconhecimento dos direitos humanos e com a prática dos valores democráticos, e conclama toda a comunidade à convivência sempre respeitosa, responsável e pacífica, bem como ao permanente empenho pela construção de espaços sociais e acadêmicos saudáveis e seguros”.
Apesar da Polícia Civil afirmar que drogas sintéticas eram produzidos em laboratório da universidade, a instituição afirma que "não há registro de que laboratórios de química estejam sendo usados indevidamente. De acordo com o professor Ruben Dario Sinisterra Millán, chefe do Departamento de Química, é improvável que laboratórios do Departamento sejam usados para o processamento de drogas ilícitas. Segundo ele, há controle de acesso por meio de catracas, e a entrada nos ambientes é inspecionada por servidores – docentes e técnicos administrativos. Os espaços ficam fechados quando não estão sendo utilizados durante aulas práticas".
Ainda conforme o comunicado, em relação ao livre acesso no campus, a UFMG alega que "Já existe uma comissão do Conselho Universitário, presidida pelo professor Maurício Campomori, diretor da Escola de Arquitetura, que está discutindo os processos de uso e cessão dos espaços para as entidades estudantis. O objetivo do trabalho é regular e normatizar a utilização desses locais, situados dentro das instalações da Universidade".
Ex-alunos
Segundo a UFMG, o químico preso ano passado e Matchola "tiveram suas respectivas matrículas ativadas no sistema da Instituição, mas ambos não concluíram suas respectivas formações acadêmicas. Ambos já estavam desligados da UFMG no momento das prisões".